Se tua mão me toca, breve, nem que seja ao de leve, traz contigo o teu sabor. Fica perto, não te vás, quero tudo o que me dás, e aquece este nosso amor.
Vem, meu louco pensamento, vem ao sabor desse vento que traz teu riso — meu calor. Vem romper o meu anseio, que deixa o coração cheio
são memórias de outrora, marcas do que já sonhei. Se um dia fui mocidade, hoje trago só metade do sorriso que deixei.
Os meus passos vão mais lentos, carregam velhos momentos que o coração me deixou. E no espelho que me fita há uma vida já escrita que o tempo não perdoou.
Quando a luz do fim da tarde entra e no rosto se alarde, revela o que o tempo fez. Mas ainda tenho esperança, num resto daquela dança do que fui na minha vez.
E se a noite desce em calma,
a luz inside em minha alma
e reacende o que restou.
Do sorriso que perdi, há um pouco ainda em si
que o tempo não apagou.
Já passou o teu perfume, mas na casa fica o lume que deixaste ao te afastar, é calor que não se apaga, mesmo quando a alma vaga pelos cantos do lembrar.
Nos retratos da memória, guardo o fim da nossa história, feito em sombra e claridade. Se outro amor vier depois, será eco de nós dois, e do tempo, a eternidade
Se o destino assim quisera, que o amor fosse quimera, ficarei sem te esquecer. Pois nas cordas da guitarra, toda a dor que o fado amarra volta sempre a renascer.
Mesmo só, sigo a cantar, pois na voz quero guardar tudo o que o amor deixou. Cada nota é despedida, mas também promessa erguida num fado do que ficou
Pelas ruas da saudade, Ecoa a felicidade; Que a lua vem anunciar. No mistério dessa hora, Toda a dor se vai embora; Quando vens me procurar.
Sob a luz prata do céu, Teu olhar é como um véu; Que me beija e me embala. Quando o sonho se ilumina, Tua voz, tão cristalina; Vem meu corpo despertar.
No olhar arde o mistério, No beijo, o lume etéreo; Que o silêncio me deixou. Tua voz, doce ventura, Desperta em mim ternura; Que o tempo eternizou.
Nas sombras nasce o desejo, Fogo intenso do teu beijo; Como brisa a me tocar. É no quarto que floresce, Esse amor que me enriquece;
Ainda se ouve por ai muita gente referir-se a Helder Moutinho, como o irmão do Camané, é tempo de acabar com essa injustiça, para com um fadista como ele e mais do que isso, um cada vez mais afirmado senhor do fado, um poeta de alta qualidade, como se nota neste fado
Este refúgio é apenas um exemplo
Agradeço o magnífico grafismo de Vitaskaly, a quem delicadamente roubei este trabalho
Se o fado é canto da alma Refúgio da noite calma Engano do sofrimento Eu trago na voz, a vida Que me tem sido oferecida Eu trago na voz, o vento Se um amor que se perdeu Que se afastou ou esqueceu
Deixou de ser meu lamento Eu trago na voz, a vida De uma breve despedida
Eu trago na voz, o vento São meus sonhos, a saudade Minha vida, uma verdade
E meu canto, uma oração Eu trago na voz, o vento Para afastar o lamento
Não sei se o teu olhar me diz verdade, ou se é miragem breve no deserto. Não sei se há em teus gestos lealdade, ou se me engano ao crer-me estar tão perto.
Será que o teu silêncio é mesmo não, ou guarda em si um rasto de ternura? Será que este desejo é todo em vão, ou nasce dele a força que perdura?
Por que razão me sinto em ti perdido, se o coração me pede que te siga? Por que razão meu riso é já contido, se o teu olhar se afasta e me castiga?
Se o teu sorriso mente ou me devora,
não sei dizer, só sinto o seu poder. É luz que guia e sombra que apavora,
doce engano que insiste em me prender.
Pergunto ao coração se ainda és minha,
responde em tom de dor, sem voz segura. Talvez a tua ausência já definha,
O tempo fugia sem par,
cruel, sem se importar,
sem saber do meu anseio.
Mas quiseste me chamar,
para irmos ver o mar,
num tão doce devaneio.
Fomos então ver o mar,
nas ondas te fui amar,
num desejo tão profundo,
sem ter medo de ficar,
nem ninguem a amarrar
nosso amor ganhou o mundo.
Nas ondas que vão e vêm,
cada gesto teu contém
um futuro a desvendar,
mas o tempo, já não tem
plo nosso amor o desdém
nem o poder de o calar.
O presente em nós se faz,
um momento que é de paz,
sem passado a nos prender.
Cada olhar é liberdade,
vivendo só na verdade,
sem temer o que há de ser.
Quando os sonhos se encontraram,
nossas vidas se abraçaram, que o agora eternizou.
Seja nas ondas, no vento,
nosso amor no firmamento
agora enfim se afirmou.
Uma renúncia dorida em peito feito dor, E um desdém sofrido , em nuvem a pairar. pra quebrar doendo, a ilusão deste amor Frias grades da prisão ,que quero mudar.
Em versos de despedida, que hoje se escreve, Renuncio ao forte fio, que o coração teceu. pelo desdém sofrido , tecido em mágoa breve, Na ilusão d amor que em mim se aqueceu.
Se a coragem me envolver, no seu cansaço, Sairei da tua pele, feita lume aceso. E nesta despedida, em dor me desfaço Das redeas da prisão, desse teu abraço
Amor que agora vai, e será só lembrança, No caminho que sigo, levo a luz verdadeira, vai doer pela vida toda, feita dura cobrança Vou cumprir meu destino, amando-te a vida inteira
Recordo-me de ti quando a saudade fria me encontra tão só, perdido em pensamento e percebendo então, que a minha alma vazia, sofre por tua ausência, um cruel tormento.
Recordo-me de ti, quando a noite escura me pesar sobre o peito, nas noites de incerteza, se buscares abrigo, e o refúgio for inseguro, lembra-te de mim, sou plo meu amor a certeza.
Recordo-me de ti, quando o vento que passa trouxer junto consigo, o sabor da lonjura, e em cada gesto teu, por mais que a dor disfarça, brilhará no teu rosto, a luz do amor que dura.
Sonho então o dia, em que o tempo impiedoso te traga ao passado, que não queres lembrar, e que por fim apagues, o arder silencioso, e nos braços meus, possas enfim, repousar.
Caminho só, noite fora com a saudade que chora, no silêncio que há em mim. Levo o peso do que fomos, hoje não temos nem somos, um abraço que diga sim.
Ouço silêncios e entendo, que é o coração tremendo, por tudo o que já vivi, As promessas que sonhei, nos teus olhos mergulhei, E depois, fiquei sem ti,
O tempo, velho barqueiro, segue lesto, passageiro, plos sonhos que afundaste. Na maré de não te ter, mas nas ondas do querer, onde nunca navegaste,
Fiz da esperança meu ninho, mesmo sem flor no caminho, que devolva a ilusão, que traga teu novo olhar, e a coragem de caminhar, que à vida me dê razão.
Amor nos teus braços me refaço, o tempo é só um eco, do que somos. O amor que temos, eterno laço, e em cada gesto, o todo, que nos damos
Trazes no peito a brisa que me acalma, no olhar, a imensidão do amor antigo. E quando a noite envolve a minha alma, é em teus braços que encontro o abrigo.
Em sombras de marés que a lua embala, teu corpo é cais do sonho, que persigo. O som da tua voz em mim se instala, gritando em meus braços por abrigo.
Como azul que se desfaz na maresia, reside a tua luz, no meu sossego. Teu corpo é o mar da minha fantasia, e nele o coração tem aconchego
Se um dia te perderes pelo destino, que leves no olhar o meu castigo. Deixarás em mim, rasto divino, dum sonho intenso e bem vivido
No silêncio que me invade,
fere a alma, é tempestade,
vento que não quer passar.
Teu olhar foi minha estrada,
luz que acende e não diz nada,
mas não deixa de brilhar.
Saudade que não se foi, Desse amor que ainda doi, Que a vida virou distante, Pensamento é meu penar, E agora só sei recordar, como foi bom, ser tua amante.
Desejo não se findou, Quem uma vez te beijou, No encanto desse dia, Na doçura dessa boca, Deixou a minh alma louca, E nova vida se abria
Ficou em mim o juramento, Feito ao sopro do vento , Ecoando na lembrança, Mesmo a vida sendo fria, Resiste a chama que ardia, Nas margens da esperança,
Estando sentada a lareira, Ou de outra qualquer maneira O desejo não se acabou, Mas eu só sei relembrar, Que não te posso abraçar Mas meu amor nao findou,
Eterno amor em meu viver No peito, a querer te ter Tudo como era dantes , Mesmo na noite sombria Resistindo a agonia, Sou tua eterna amante
No meu peito, a noite fria ,
sem teu lume, a luz fugia ,
caminhando sem te achar ,
pelos becos da lembrança,
onde a dor nunca descansa,
sem teu corpo pra me abraçar,