Alfredo Marceneiro enquanto interprete também faz parte da história do fado. É conhecida a sua faceta de autor mas a sua voz inconfundível, a sua presença e porque não dizê-lo as suas birras, são a nossa memória
A letra deste fado é do seu letrista predilecto Henrique Rego e a música do próprio Marceneiro.
Moinho desmantelado
Pelo tempo derruído
Tu representas a dor
Deste meu peito dorido
É grande a tua desgraça
Ao dizê-lo sinto pejo
Porque em ti apenas vejo
A miseranda carcaça
Perdeste de todo a graça
Heróica do teu passado
Hoje ao ver-te assim mudado
Minha alma cora e descrê
E quem te viu, e quem te vê
Moinho desmantelado
Moinho pombo da serra
Que triste fim tu tiveste
Alvas farinhas moeste
Para o povo da tua terra
Hoje a dor em ti se encerra
Foste votado ao olvido
Foi-se o constante gemido
Dessas mãos trabalhadoras
Doce amante das lavouras
Pelo tempo derruído
Finalizas tua vida
Em fundas melancolias
Ás tristes aves sombrias
Hoje serves de dormida
No teu seio dás guarida
Ao horrendo malfeitor
Tudo em ti causa pavor
É bem triste a tua sorte
Sombria estátua da morte
Tu representas a dor
Junto de ti eu nasci
Oh! meu saudoso moinho
E do meu terno avozinho
Quantas histórias ouvi
Agora tudo perdi
Sou pela dor evadido
Vivo no mundo esquecido
Moinho que crueldade
És o espelho da saudade
Deste meu peito dorido