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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Cálice de perdão

Muitas vezes por razões que nada têm que ver com a sua qualidade como fadista, ouço pessoas denegrir Gonçalo Salgueiro, que talvez por isso tarde em afirmar-se como um valor indiscutível do fado. Porém quando se ouve Gonçalo Salgueiro ou quando se tem o prazer de o ouvir cantar ao vivo, não pode deixar de ser contagiado, pela sua voz mas sobretudo pela alma pela emoção, com que interpreta, cada fado do seu repertório.

Este fado para a música do fado Acácio é de sua autoria

Minha dor é um convento
cheia de sombras por dentro,
onde o sol não quer entrar,
sombras são feitas de ti,
silhuetas que esculpi,
sem a luz do teu olhar.

As paredes frias nuas,
escondem saudades tuas,
que o luar me veio mostrar,
no templo és oração,
o meu cálice de perdão,
por viver só para te amar.

Passam noites passam dias
que nos dobram agonias,
que o vento vem por mim,
neste convento onde moro
rezo canto grito e choro,
ninguém sabe que é por ti.



sábado, 27 de julho de 2013

Medo


Já me tenho referido bastantes vezes a esta talentosa fadista que dá pelo nome de Ana Marques e que insisto merece uma grande oportunidade. No próximo dia 29 de Julho, vou por certo ter oportunidade de voltar a ouvi-la, já que ela actua em Portimão no restaurante Lusana. Quem não a conhece não deve perder a oportunidade de a ouvir

Ei-la num fado difícil de cantar talvez por isso pouco cantado, uma letra de Reinaldo Ferreira para a música de Alain Oulman

Quem dorme à noite comigo,
é meu segredo,
Mas se insistirem lhes digo,
O medo mora comigo
Mas só o medo

É cedo porque me embala,
Num vai-vém de solidão
É com silêncio que fala
Com voz de móvel que estala
E nos perturba  a razão

Gritar: quem pode salvar-me,
Do que está dentro de mim,
Gostava até de matar-me
Mas eu sei que ele há-de esperar-me,
Ao pé da ponte do fim


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Um fado é pouco


Sempre gostei imenso de ouvir Maria Valejo cantar, lembro-me que a primeira vez que a ouvi, na sua condição de fadista, foi há muito anos, na casa de fados que Tony de Matos geria. Lembro que ela fazia parte do elenco,  repartindo a actuação com o Tony e com outra grande fadista chamada Lídia Ribeiro.

Que é feito de Valejo ? Este minúsculo país consegue ocultar os seus melhores, enquanto dá guarida a qualquer palerma, que entende que usar o inglês para se exprimir é o melhor para as sua carreira, que dura por vezes muito pouco e não se alarga além de Badajoz

Este fado chamado Um fado é pouco tem letra de Artur Ribeiro para a música da  marcha de Raúl Pinto

Um fado só, não vai dar
Para contar à cidade,
Os sonhos que de mim trago,
Um fado, não vai chegar
Nem para dizer metade,
Do amor que te consagro,

Um fado só não é nada,
Para dizer cada anseio,

Do nosso amor sem razão,
Desta paixão desvairada,
Que não sei como é que veio,

Nascer no meu coração.

Para falar, de dois loucos,
Um fado só não vai dar,

Nem vai dar a minha voz,
Todos os fados, são poucos,
E mesmo assim, se calhar

Vai ficar além de nós



quarta-feira, 12 de junho de 2013

A minha vida inteira


Para além de toda a sua alma fadista, Fernando Maurício é um exemplo de bem cantar, o respeito que ele sempre teve pela palavra dos poetas e pela necessidade que o fadista tem que essa mensagem chegue a quem ouve o fado. A extrema clareza, com que canta, faz com que se percebam cada uma das doze silabas deste alexandrino que Fernando Peres escreveu para a musica de Joaquim Campos. No dia 13 do próximo mês, passará o 10ºano da sua morte. É incrível, como o tempo passa depressa, mas ao mesmo tempo, como a sua voz e o seu exemplo enquanto homem, refletida na humildade do seu comportamento,  fará dele sempre o nosso REI.

Aos jovens fadistas, recomendo, ouçam vezes sem conta todos os seus fados, não para o imitarem, mas para que possam perceber como se canta, como se tratam as palavras, em voz de fado. 



A minha vida inteira, é toda despedida,
Dum momento d'amor, que não quiseste dar,
A minha vida inteira, é toda a tua vida,
Tristeza sem rancor, de não poder amar.

A minha vida inteira, já cabe num só beijo,
Tem alma de ansiedade, que vem das madrugadas,
A minha vida inteira, é feita de desejo,
Com corpo de verdade, esperanças fatigadas

A minha vida inteira, vive á tua procura,
Anda pela cidade, perde-se em tantas ruas
A minha vida inteira, é toda esta tortura,
Que é feita de saudade, por ter saudades tuas




Na guitarrada de hoje destes 4 interpretes só José Pracana está vivo, mas é um momento fantástico Atacando o menor do Porto e o fado Lopes e acabando nas conhecidas variações em ré, vale a pena prestar atenção. A guitarrada também é fado, ao contrário do que por vezes acontece, quando público menos atento entende que a guitarra é uma pausa para uma converseta com os amigos

terça-feira, 21 de maio de 2013

A hora é de saudade



Francisco Pessoa  começou a cantar o Fado com  17 anos lá pelo anos 60 Esta letra de Mário Martins para a música do fado Alberto de Miguel Ramos é desse tempo

Julgo que Francisco Pessoa, ainda está vivo, mas retirou-se há muito tempo, mas ainda há muita gente como eu, que o recorda


A hora é de saudade, meu amor,
nas longas noites calmas, de luar,
é hora é de silencio, meu amor,
de tudo o que entristece recordar.

O tempo em que ideais, prometemos
chegar onde ninguém tinha chegado,
mas logo no inicio, nessa estrada,
ficou tudo o que foi imaginado

Parados estão meu olhos, nesta hora,
perdidos plo caminho, e tão cansados,
a recordar o mundo, que perdemos,
por caminhar a par, desencontrados.

E nada do que fizemos, foi pecado.
nada do que dissemos, foi verdade,
não é bem desta vida, meu amor,
que qualquer um de nós, terá saudade









quarta-feira, 17 de abril de 2013

Teu cheiro


Helena de Castro, uma fadista da  Mouraria, que já aqui foi referida algumas vezes, pode acrescentar à sua carreira que passou, por grandes casas de fado, hotéis e teatro de revista, a faceta de poetisa, como é o caso deste poema por si interpretado, para a música do fado margaridas de Miguel Ramos.

Quem quiser visitar o seu cantinho no FB, encontrará por lá outros poemas e outros fados que o seu talento e a sua extraordinária voz, valorizam 


Guardo em mim, o cheiro do teu amor,
cobrindo o meu corpo, como lençóis,
cheira a pinho, tem  perfume de flor,
de verdes campos, beijados plo Sol

Molha meu corpo, com tuas marés,
nelas, tens o cheiro a maresia
então, envolta nessa magia,
deixa, que adormeça a teus pés,

Se partes, fica esse teu odor,
penso, que ainda estás comigo,
A mistura do cheiro, é melhor 
quando faço e quero amor contigo

Meu amor é só no Paraíso,
que me encontro, e me dou assim,
para ser tua, nada mais preciso,
que teu cheiro, guardado em mim.


Na guitarrada de hoje trago aqui na guitarra Ricardo Martins e na viola Aníbal Vinhas interpretando o Vira de Frielas

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Oferece o teu amor

Dina do Carmo é uma fadista já com larga experiência e que continua em grande forma cantando a sua paixão pelo fado.

Trago-a aqui cantando um fado que não sendo um dos seus mais famosos ( A beira do cais é o mais famoso) é um fado que eu gosto muito um fado de Júlio de Sousa também autor da música

Oferece o teu amor 
A quem te possa amar
A minha boca fria n
ão tem alegria
Nem mesmo a cantar
Na cruz da minha vida 

Não quero mais sofrer
Não quero ser vencida n
em mulher perdida
Por tanto te querer

Não queiras no peito essa flor sem perfume, sem cor

Que não sabe enfeitar
Não queiras a esmola do amor de quem não sabe dar
Amantes não quero, não quero
Só este me pode agradar
É belo e castiço o meu fado, amante sem par

É ele quem me beija

É ele quem me abraça
Nas noites de luar

Se fico a pensar na vida que passa
E passa a vida inteira

Saudade e amargor
Ao longe uma toada canta a madrugada

És tu meu amor

(Letra retirado do blog Fados do fado a quem agradeço)



Uma guitarrada que é um mix de várias peças, interpretada magistralmente  por 

Luís Guerreiro José Manuel Neto e Ângelo Freire


domingo, 17 de março de 2013

Nós dois e o amor

Continuando a insistir em especial com os jovens fadistas, que vale a pena procurar, quando constituem o seu repertório, por fados que embora menos "cantados" não deixam de ser magníficos, como é o caso deste de autoria do poeta José Fernandes de Castro, com música de Nel Garcia.

Gosto de dizer a quem me pergunta, que o êxito duma carreira fadista, está na voz, na alma com que se canta e nunca no facto de se cantar um fado muito conhecido ou pôr o público a bater palminhas.

Acrescente que a letra deste fado foi retirada do blog do próprio autor, esse blog magnífico chamado Fados no fado, que muito pode ajudar nas escolhas que acima referi

Quem canta este fado é uma fadista de Gaia, chamada Rosa Ferreira da Costa, conhecida como ROSITA


Vou inventar uma noite de luar
E se o tempo me ajudar inventarei mil estrelas
Vou colocar mais fogo no teu olhar
Para que possas brilhar muito mais que qualquer delas

Nós dois... inventaremos a vida
A vida... inventará felicidade
O tempo... inventará a partida
E a dor sentida... inventará mais saudade

Vou descobrir um amor que há-de vir
P'ra contigo repartir o mel da minha invenção
Vou desfrutar dessa minha ideia louca
E vou pôr na tua boca a voz do meu coração



O guitarrista de hoje é Angelo Freire interpretando Variações sobre o fado Sabrosa
Este jovem é um taleto do fado, como executante da guitarra, mas que além disso tem um voz magnífica


terça-feira, 5 de março de 2013

Anda matar as saudades


Um dos objectivos deste espaço para além de homenagear o fado e os seus interpretes, não deixa de fora os autores sem os quais não havia fado Tenho constatado, que muitos jovens fadistas, tendem a incluir nos seus repertórios, fados que "estão na moda" cantar, o que leva a uma certa saturação auditiva de alguns fados e por consequência alguma repetição. Fazendo alguma pesquisa, muita coisa interessante há para cantar.

Outra preocupação minha, é tentar não me repetir colocando aqui, fados cantados por fadistas mais divulgados, por não ser necessário, porque pela blogosfera existem muitas edições que dão conhecer esse nomes.

Gosto de evidenciar aqui, nomes menos conhecidos, mas que quanto a mim tem qualidade, como é o caso que Paulo Cangalhas, um fadista do norte (julgo que tem um restaurante em Matosinhos) que canta aqui uma letra de Gervásio Miguel (um desconhecido para mim). sobre a música de Joaquim Pimentel do conhecido fado Meu amor marinheiro.

Eis uma boa solução para quem gosta desta música, não cantar sempre o mesmo fado. como acontece agora sendo que se trata dum dos fados da moda, como referi

Sinto saudades
desses tempo em que eu era,
feliz, por te ter à espera,
de mim a horas tardias

Sinto saudades,
dum beijo teu mordiscado,
quando dormia a teu lado,
sabendo quanto me querias

Sinto saudades,
de toda a tua frescura,
das caricias da ternura,
que só tu sabias dar

Sinto saudades
do loiro dos teus cabelos,
e dos teus olhos tão belos,
quando me querias amar

Anda matar as saudades
que não me deixa um momento,
vem ouvia  a voz do mar,
a murmurar meu lamento

Anda matar as saudades,
esta noite em nossa cama,
amor de amar de verdade
temos nós, só tem quem ama



Raul Néry na guitarra portuguesa e Joaquim do Vale na viola tocam Lisboa ao entardecer.
O autor desta "Lisboa ao Entardecer" é o Conde Jan Tisky, um polaco que foi casado com a decoradora portuguesa Frances de Vasconcelos.
(vídeo retirado do you tube produção de Fado3carabelas)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O menino que não fui

Que se pode dizer mais sobre o grande Fernando Maurício, o mestre o estilar ìmpar e sobretudo um grande homem com um coração e uma modéstia sem limites.

Aqui canta uma letra de Mário Raínho, um dos poetas que ele mais cantava, numa sextilhas para o marcha de João Maria dos Anjos

Nasci talhado de fado
Cresci no tempo a correr
Sem direito de sonhar;
Não parei no meu passado
Fui menino sem saber
E condenado a cantar

Tive a noite por guarida
Deram-me um fado, por pão 
Por enxerga, a fria rua
Dormi à margem da vida
Ao lado da solidão
Coberto p'la luz da lua

Queria voltar a nascer
E sonhar um só momento
No meu mundo pequenino
Passou o tempo a correr
Não tive idade nem tempo
De brincar e ser menino




Na guitarrada de hoje apresento o Ricardo Martins acompanhado pelo seu irmão Nuno Martins na viola,  na Variações em Ré. Numa visita ao seu blog poderão assistir a muito mais desta jovem dupla  e  ... não só



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Ninguém quer saber de mim

Hoje ao conversar no FB com a minha amiga Helena de Castro, ela também grande fadista, lembrou-me de Júlia Lopes uma veterana fadista, que ainda não há muito tempo estava em excelente forma vocal.

Dona do chamado vozeirão, lembro-me dela no inesquecível Ferreiras em Lisboa, e o seu famoso baté o pé no chão, com que terminava alguns fados, dando expressão à alma com que viva cada fado

Hoje relembro-a aqui cantando o fado Ninguém quer saber de mim, uma letra de João Dias para o fado Proença de Júlio Proença

Não me perguntem quem sou,
onde vais pra onde eu vou
ou se estou triste ou contente,
barco de vela rasgada,
sigo ao encontro do nada,
que me chama do poente.

Meus olhos plantaram estrelas,
ninguém se ergueu a colhe-las
que se apagaram cansadas
esta é a noite mais escura
este negrume perdura,
sem esperança de madrugadas.

No mar da minha ansiedade,
naufrago até a saudade,
do que já fui e passou,
Não queiram saber de mim,
que eu sigo direita ao fim,
contente de ser quem sou




A guitarrada der hoje é pelo conjunto de guitarras de Raul Nery interpretando Variações sobre o fado corrido





quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pássaro fágil



Relembro aqui Maria da Saudade uma fadista algarvia  que vive segundo julgo em Portimão e que já tem uma carreira longa, Aqui canta este fado de Mário Raínho para o fado Tamanquinhas de Carlos Simões Neves

Dentro de mim este fado
neste jeito quase ateu,
é virtude é pecado,
faz o fado ser cantado
que não chegou a ser céu

Esta voz quase chorada
e também quase ventura,
andorinha que esvoaça,
é caminho de desgraça,
no beiral desta loucura

Dentro de mim este grito,
de solidão e de pranto,
canto tristonho e aflito,
que não chega ao infinito
nasce e morre neste canto.

E plo fado que me enleia
amarras-me até doer
navegas em minhas veias
com a força das marés cheias
no meu corpo de mulher




Na tentativa de homenagear outros intervenientes na História do nosso fado, vou tentar colocar aqui, em complemento às minhas publicações, peças do que habitualmente se chamam guitarradas, que vou apanhando ai pela net agradecendo desde já aos autores   dessa publicações que aqui reproduzo.

Hoje Variações em mi menor tocadas por José Manuel Neto na guitarra e Carlos Manuel Proença na viola


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Outra boa noite


Ana Marques canta este fado do jovem e talentoso Diogo Clemente autor da letra e da música.

Ana Marques é das fadistas que quanto a mim se aproxima mais das tonalidades e na forma de entoar da Amália Rodrigues, há passagens no seu cantar que remetem para ela,


Boa noite à solidão
Disse um dia quem me disse
Que a saudade é uma espera
Dava o tempo e a razão
Pra que a vida me despisse
A saudade que me dera

Porque mais do que a vontade
Mais que a sede dos meus dedos

De hoje em ti eu me perder
São os braços da saudade
Que se perdem nos meus medos

No meu corpo a anoitecer

Que a cada beijo que a vida
Me fez dar á solidão

Como um amor que não conheço
Deu-me a voz da despedida
Que é muita mais que a razão

E que a voz de que me esqueço

Boa noite, noite fria,
Digo às horas de amargura

Que se estendem noite fora
Boa noite, disse um dia
Quem sentiu da noite escura

A tristeza desta hora


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Vou lá ter


Lucilia do Carmo ficará  para sempre na História do fado .Passados que foram 14 anos após a sua morte, permanece na nossa memória devido ao êxito  a sua longa carreira de mais de 40 anos, embora se tenha retirado relativamente cedo na década de 80, quando ainda seria de esperar que a continuasse

Este fado é de autoria letra e música de Mário Moniz Pereira

Partiste, tudo na vida tem fim
Sempre disse cá para mim que isto iria acontecer
Partiste, mas a culpa não foi minha
Foi da vida que caminha muito depressa a correr
Partiste, foi-se o amor, veio a amizade
Esta nova realidade não quiseste comprender
Agora, prefiro ser a ternura
Que estando só é mais pura,

 que estando triste não chora
Sem ti, é mais fácil eu saber
Que a vida está por viver 

e que ainda não morri
Partiste p’ra longe da minha vista
Pode ser que assim resista á tentação de te ver
Partiste, continua sempre em frente
E não voltes de repente que te vais arrepender
Partiste, por favor não voltes mais
Mas não digas p’ra onde vais, se não queres que eu vá lá ter