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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Lamentos

Max o grande fadista menos conhecido entre nós por essa faceta, volta aqui de novo, com o seu estilo inconfundível, nunca deixarei de o lembrar considerando um dos maiores nomes do fado de sempre

Letra é de Domingos Gonçalves Costa e música do próprio Max.


Foge de mim
sinceramente te peço,
esquece tu
que eu também esqueço,
o nosso amor infeliz

Foge de mim
porque jamais compreendes,
que eu não sou
quem tu pretendes
e assim não serás feliz

Foge de mim
porque ao sofrer teu penar,
a isto chamas amar,
e eu não quero amar assim.

E se algum dia,
te encontrares
sem um carinho,
qual errante
num caminho,
agreste e triste sem fim

Volta aos meus braços,
aos meus afectos leais,
e verás que nunca mais,
nunca mais foges de mim

Foge de mim,
se a tua sorte voltar,
é trocares nossa amizade,
por outro afecto qualquer.

Foge de mim,
porque a saudade é só minha,
e se és mais feliz sozinha,
e só te vejas mulher

Foge de mim,
para onde eu nunca te veja,
foge que Deus te proteja,
e ao meu desgosto ter fim

Volta aos meus braços,
aos meus afectos leiais,
e verás que nunca mais,
nunca mais foges de mim.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Lamento sem abrigo

Uma palavra Jorge Fernando no seu melhor. Como é seu hábito, autor de letra e de música e a presença duma voz maravilhosa, isto chama-se o pleno dum grande artista.

Esta fado está inserido num CD chamado Vidas

Quando a noite promete lançar-me na senda do frío
Quando a chuva se atreve no rosto gelado e cansado
E a névoa da montra reflecte meu olhar vazio
Porque a olho e não vejo senão o rosto do pecado

Quando a calça molhado pela água que o vento me atira
E o corpo reclama a atenção que o pensamento nega
É que eu sinto que às vezes a alma de mim se retira
E suspensa só espera um sinal para a última entrega

Quando o asfalto molhado recusa o descanso breve
E o cansaço me toma nos braços das sombras que assomem
A criança que fui volta a mim, e os sonhos que teve,
São a voz do menino que pede,não queiras ser homem

Quando a angústia gastar o meu tempo e minha coragem
De não querer nem sequer resistir ao caminho traçado,
Não há chuva, nem vento, nem frio que me impeça a viagem
E eu serei apenas a lembrança de um triste pecado

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Falar sozinho

Já com 50 anos de carreira Nuno de Aguiar é um dos mais antigos fadistas no activo.

Trago-o aqui para cantar uma letra de Silva Tavares sobre o fado bacalhau de José António Silva. uma música do ínicio do século 20 mas que ainda hoje é bastante usado, foi um dos primeiros fado para sextilhas, num tempo em que todos cantavam versos em quadras, em redondilha maior.


La porque passo na rua
sempre a conversar comigo
no meu silêncio profundo,
dizem que eu ando na lua,
e outras coisas que eu não digo,
só para não ouvir o Mundo

Diz-me aquele que devo ir
ao doutor mostrando pena
para não dizer que estou louco,
um outro então sem sentir,
diz-me que não vale a pena,
enlouquecer por tão pouco.

Depois outro e outro ainda,
perdem tempo a conversar,
do meu conversar assim,
e enquanto a vida não finda,
eu prossigo sem reparar,
que alguém reparou em mim.

Lá porque falo comigo
e levou uma vida a esmo
o Mundo fala de mim,
deixai-me um só bocadinho,
conversar comigo mesmo,
que um louco não é assim.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Espera

Em verdade se diga que Pedro Homem de Melo já morreu há 26 anos sendo também verdade que não é suficientemente lembrada a sua qualidade de poeta e devidamente identificado e divulgada a sua acção em prole da cultura popular, que ele conheceu profundamente.

O fado e os que o amam, contudo não o esquecem, imensas são as suas letras, que, aposto , não há fadista que não o cante. Esta é menos conhecida mas nem por isso menos bela.

Do magnifico trabalho de Paulo Penim de 2003,( para quando outro trabalho com a qualidade daquele álbum a que chamou Os nomes do amor ?), este fado uma letra dele de 1952, mas que demonstra bem a intemporalidade da poesia.

A música é do fado Margaridas de Miguel Ramos, um tradicional para decassílabos

Quando virás na vaga proibida
com maresia e vento ao abandono
pôr nos meus lábios um sinal de vida
onde haja apenas pétalas e sono

Com teu olhar de nuvem ou cipreste
com uma rosa oculta por florir,
se te chamei e nunca mais viste,
quando virás sem que eu te mande vir,

Quando quebrando todos os segredos,
na aragem que a poeira deixa nua,
virás deitar-te um pouco nos meus dedos,
como o sol como a terra como a lua.

E porque a minha boca te sorrira,
tentando abrir uma invisível grade,
quando virás sem medo e sem mentiras,
dar ao meu corpo a sua liberdade.


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um fado para esta noite



Fiz um descoberta recente, a da fadista Ana Marques. Algarvia de Portimão, mas que vive em Lagos.
Pelo seu curriculo percebi, que é bastante conhecida aqui no "Reino", mas penso que tal não acontece, por enquanto, espero, no resto do País.
Por mim fiquei encantado com a sua qualidade vocal e pela sua presença em palco, acrescentando que gosta de falar com o público, o que normalmente não acontece com os fadista e tem o bom hábito de anunciar os autores dos fados que canta, que demonstra respeito e consideração por eles, sem os quais o fado e os fadistas não existiam..

Este fado faz parte do seu trabalho que tem o título de Fado-Alma e voz e o seu contacto é o TM 914 243 604

Este fado é da autoria de Cesár de Oliveira/ Rogério Bracinha e Ferrer Trindade

Anda deitar-te, fiz a cama de lavado
Cheira a alfazema o meu lençol alinhado,
Pus almofadas com fitas de côr,
Colcha de chita com barra de flor,
E à cabeceira tenho um Santo alumiado.

Volta esta noite p'ra mim
Volta esta noite p'ra mim
Canto-te um fado no silêncio,
se quiseres

Mando um recado ao luar,
Que se costuma deitar, ao nosso lado,
P'ra não vir hoje,
se tu vieres


Uso o meu xaile p'ra nos servir de coberta
E um solitário, ao pé da janela aberta;
Pus duas rosas, que estão a atirar
Beijos vermelhos, sem boca p'ros dar
Sem o teu corpo, minha noite está deserta

Volta esta noite p'ra mim
Pois só é noite p'ra mim
Ser abraçada por teus
braços, atrevidos

Quero o teu cheiro sadio,
Neste meu quarto vazio,
De madrugada, beijo os teus
lábios, adormecidos



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A lua e o corpo

Chico Madureira é considerado no meio fadista como um dos mais importantes intérpretes da sua geração e ao mesmo tempo um mestre e uma grande referência para os mais novos.
Assim se escreveu sobre ele no blog fado.com

Subscrevo essa afirmação como se pode comprovar pela audição deste fado de Rui Manuel sobre o Versículo de Alfredo Marceneiro.

A opção para contacto com Chico Madureira será (julgo eu )

OCARINA
R. Quinta De Santa Marta, 2 L - 1495-171 ALGÉS
Tel. 214 121 136 • Tlm. 969 002 573 • Fax. 214 121 140
www.ocarina-music.pt • ocarina@ocarina-music.pt • ocarina@ocarina-music.pt

Eis que a lua devagar te vai despindo
Atrevendo uma carícia em cada gesto,
De igual modo é que a nudez te vai vestindo
E o teu corpo condescende sem protesto.


Mal os ombros se desnudam, surge o peito
Logo o ventre no desenho da cintura
Cada músculo detém o mais perfeito

Movimento, em sincronia com a ternura

Já as ancas se arredondam e projectam

Sobre as coxas, sobre os vales, sobre os montes

Onde as vidas, noutras vidas se completam

Quando o tempo é um sorriso, ou uma fonte


Fica a roupa amontoada junto aos pés

Quer dos teus, quer dos da cama que sou eu

Estendo a mão, apago a lua, que a nudez
Do teu corpo, fica acesa, sobre o meu




terça-feira, 23 de novembro de 2010

Não me conformo

Carminho Moniz Pereira canta um fado com letra de Emílio Vasco e música de Mário Moniz Pereira

Não sei como pudeste descansar
Noutros braços, sabendo que estou triste
Nem um remorso só te faz lembrar
O que te dei e tu retribuíste

Mas como,Santo Deus,tudo apagado
Nesse teu coração descontrolado
Sabendo tu, que o meu, se queimaria
Numa saudade viva, dia a dia

Bem sei que todo o bem tem sempre um fim
Mas não, não me conformo, assim

Entre nós dois, estão sempre de permeio,
Doces recordações a que me agarro
Na estante, o livro que deixaste a meio,
No meu cinzeiro, o último cigarro

E o lenço que me deste nos meus anos
Mortalha doutros tantos desenganos
Onde guardo o que resta desse adeus
Que os teus olhos trocaram com os meus

Bem sei que todo o bem tem sempre um fim
Mas não, não me conformo, assim


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Árvore de Natal

César Morgado, nasceu em Lisboa na Freguesia de Belém a 20 de Novembro de 1931 e faleceu a 7 de Abril de 1974 em Cais das Pedras, Massarelos, no Porto.

Este tópico foi retirado do blog de Vitor Marceneiro chamado Lisboa no Guiness onde pode ler-se mais sobre este grande fadista do passado. mas ainda por muitos recordado.

A letra deste fado é de Tito Rocha sobre a música do fado menor.

Aquela árvore despida
plas mãos do vendaval,
é a árvore do Natal
do que não tem guarida.

Dezembro noite medonha
a chuva cai de seguida,
tornando inda mais tristonha
aquela arvore despida.

Nem sequer uma só folha
resistiu ao temporal,
não houve excepção na escolha
plas mãos do vendaval

O trovão rebenta breve
amadrontando o casal,
e triste cheia de neve
é a árvore do Natal

Quem não tem casa nem mesa,
quantas vezes diz na vida,
não tem pena a natureza,
dos que não tem guarida.





quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Não te quero perder


Um modesto cantinho como o meu não podia deixar de referenciar Júlio Vieitas um grande nome já desaparecido em 1990, mas a quem o fado deve muito quer como letrista, quer como interprete.

Quem quiser saber mais sobre a biografia deste fadista das Caldas da Rainha, pode consultar o blog de Vitor Marceneiro, onde a vida deste senhor do fado se encontra resumida.

Aqui canta uma letra de sua autoria sobre a música do fado Proença de Júlio Proença

Andei perdido no cais
nesse dia negro dia
sem te ver na despedida,
entre gemidos e ais,
o mar revolto bramia
insultando a própria vida.

Após a tua partida,
vaguei pela cidade,
quis esquecer-te e bebi,
quis dar novo rumo á vida,
mar era sempre a saudade,
que me falava de ti.

Há quem não pense nem veja,
há mesmo quem não suporte,
esta razão singular,
quando a gente se deseja,
só um fim só a morte,
nos consegue separar.

Perdi-te fiz falsas juras,
partiste e por cá fiquei,
alguns anos sem te ver.
quero esquecer tais loucuras,
agora que te encontrei,
jamais te quero perder


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ao longo do tempo


É a segunda vez que aqui trago José Matoso, um fadista admirável. Da primeira vez fiz uma critica não a ele directamente, não sabe cantar mal, mas a quem escolheu uma brasileirada para ele incluir no seu repertório.

Este sim é um fado, tem a assinatura de Paco Gonzalez

Agradeço a letra ao blog amigo Fados do Fado

Quando te vi depois de tantos anos
Secou-se-me a garganta e não falei
Refugiei-me no trem do pensamento
E tu foste a estação onde eu parei

As folhas começavam a caír
As chuvas brevemente iam chegar
O outono tinha tons de primavera
E quando o meu olhar ficou no teu olhar

Sorrimos, conversamos, dançamos e nessa noite
O amor veio depois sem nós pedirmos nada
E nessa comunhão vimos nascer o dia
Envoltos num amor que a noite abençoara,
Deixei-te no teu corpo a força do meu corpo
Deixei-te nos teus lábios a febre de carinho
Depois, sem um adeus, sem lágrimas nos olhos
A vida nos levou deixando-nos sózinhos

A mão da guerra tinha abraçado o mundo
E houve dois caminhos a seguir
O meu destino seguiu por uma estrada
Pela qual o teu destino não pôde ir

A paz voltou á terra de ninguém,
E um dia, por acaso, te encontrei
Ouvi um pequenito chamar mãe
Secou-se-me a garganta, e não falei

Lembrei aquela noite que juntos conversamos
O amor veio depois sem nós pedirmos nada
E nessa comunhão vimos nascer o dia
Envoltos num amor que a noite abençoara,
Deixei-te no teu corpo a força do meu corpo
Deixei-te nos teus lábios a febre de carinho
Depois, sem um adeus, sem lágrimas nos olhos
A vida nos levou deixando-nos sózinhos


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Chora guitarra


António Severino um grande fadista volta aqui para interpretar este lindo fado de António Reisinho um poeta e homem do fado, que muitos fados lhe tem entregue

Quando a gente tem um fado,
um fado, que descreve a nossa dor
sentimos que ao nosso lado,
vive um poema perdido,
que chora, com a gente
o nosso amor.

Quando a gente tem saudade
saudade, duma guitarra que chora,
choramos a felicidade,
e cantamos num gemido,
um fado que se tem pla vida fora.


Chora guitarra
chora chora minha amiga,
que o pranto duma cantiga
é a voz dum coração

Chora guitarra
chora chora que o teu fado,
é o pranto amargurado,
que eu choro nesta canção.

Quando a gente perde a noite,
a noite, nos braços da madrugada,
sofremos como um açoite,
as lembrança do passado,
passado, duma vida amargurada,

Quando a gente perde o sono,
o sonho, onde se ama a sonhar
ai meu amor que abandono,
nos poemas dos meu fado
quando a guitarra
se põe, a chorar


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Fui ao baile


Volto a trazer aqui a Maria do Carmo (Micá) que gosto muito de ouvir e não sei por onde anda, que pena não existir um sítio onde possamos saber onde estão, onde cantam os nossos fadistas.

Trata-se tão mal o fado em Portugal


Aqui canta uma letra de Amadeu do Vale e música de Fernando de Carvalho, que segundo informação recolhida terá sido criado para a saudosa Fernanda Baptista

Vesti a blusa nova estreei o meu xaile

Para contigo ir ao baile e dançar juntinha a ti

E até, p'ra tu me achares mais airosa e vistosa

Pus no cabelo uma rosa e chinelinha no pé


Mas mal entraste, bem vi que falaste c'oa Rosa Maria

Aquela que namoraste na Rua da Mouraria

P'ra não te dar o prazer de mostrar todo o meu azedume

Peguei o xaile e calei-me, e afastei-me sem um queixume


Fingi não ver e fui dançar

Com um rapaz que me andava a fazer um namoro a valer

P'ra comigo casar

Julgavas ter com quem brincar

Mas vê bem como tu te iludiste, quando no baile me viste

Nos braços dum outro a bailar


Saí depois do baile era já madrugada

Mas desta abraçada já a outro e não a ti

E vi que tu e a Rosa Maria se riram

Quando na rua assistiram ao abraço que eu lhe dei


Como é costume, bem vi no azedume do vosso embaraço

Que os torturava o ciúme, por ir com outro p'lo braço

E vi depois zangarem-se os dois, porque tu lhe disseste

Que estavas desiludido e arrependido do que fizeste



Os meus agradecimento ao fados no fado pela letra que usurpei



quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Mais um dia

Este fado cantado por Pedro Moutinho pertence ao seu disco Um copo de sol apresentado em Abril deste ano onde , canta poetas como Ana Carolina (Passo Lento), Tiago Bettencourt (Vou-te levando em segredo), Pedro Campos (Lisboa tu és assim), Aldina Duarte (Primeira Dança), Rogério Oliveira (Paradoxos do amor), Pedro Tamen (Palavras Minhas), Manuela de Freitas (Sem sentido e Quando Lisboa) e Jorge Rosa (Mais um dia) - estes dois últimos nunca antes cantados pelo fadista.



Uma letra de Jorge Rosa com música do Fado meia-noite de Filipe Pinto

Hoje o dia amanheceu
Tão triste, tão triste
Como sempre aconteceu
Desde o dia em que partiste

Chorou o céu, chorei eu
Chorou tudo quanto existe
Hoje o dia anoiteceu
Tão triste, tão triste

Mais um dia, um dia a mais
Mais um dia sem calor
A juntar á minha dor
A acrescentar aos meus ais

Mais uma jornada fria
Longe dos meus ideais
Longe da minha alegria
Mais um dia mais, um dia a mais

Os meus agradecimentos ao Fados no fado pela letra deste fado


domingo, 26 de setembro de 2010

Poema do nosso amor


Carlos Zel foi um dos fundadores da Academia do Fado e da Guitarra. Nos últimos anos da sua vida, foi o impulsionador e organizador das Quartas de Fado, no Casino do Estoril, por onde passaram muitíssimas vozes de várias gerações.

Nesses concertos também desempenhou o importante papel de divulgador de novos talentos. Deu, de resto, uma importante ajuda nos primeiros passos de fadistas como Camané e Katia Guerreiro.

Em 2000, encheu o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém num concerto que marcou definitivamente a sua consagração. Viria a falecer a 14 de Fevereiro de 2002, na sua casa, em Cascais.



Aqui canta na música do fado Acácio de Acácio Gomes uma letra de Hortense Viegas Cesar

De tanto pensar em ti
Desde que te conheci
Chego a não compreender;
Qual a razão ou motivo
Se é por mim próprio que vivo
Se és tu quem me faz viver

E fico então, convencido
Que este afecto desmedido
Passa as normas usuais
Mas corre um dia após dia
E descubro por magia
Que te amo ainda mais

Não tentes compreender
A causa deste meu querer
Para amar não há razão
Só podemos assumir
É inútil discutir
As razões do coração

Talvez que nesta loucura
Se resuma por ventura
Tudo o que não sei dizer
O que sinto é tão maior
Que não cabe, meu amor
Nas palavras que disser

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Escravos e donos


Ainda não tinha trazido aqui Gabino Ferreira uma voz inconfundível do fado, que nasceu no Porto na freguesia do Bonfim, em 1922 e que tanto quanto julgo saber saber ainda está vivo

Canta aqui uma letra de Carlos Conde e música da marcha de Raúl Pinto, um dos seus fados mais populares.

Quem quiser ler mais sobre Gabino Ferreira pode consultar o blog do Vitor Marceneiro, Lisboa no Guiness.

No jardins da cidadela
Em dia alegre de Maio
Pelo caír da tardinha
Um aio solta a cadela
Qua rasga a carne ao lacaio
P’ra divertir a rainha

Depois, no salão doirado
Entre gente de alto porte
E figuras d’alta grei
Um bobo chicoteado
Pelos fidalgos da corte
Vai beijar os pés ao rei

E enquanto a seje real
Atravessa o picadeiro
P’ra ser mostrada á nobreza
Junto ao lago de cristal
Morre á sede um albardeio
P’ra recriar a princesa

Três quadros tristes, banais

Que em futuro mais feliz
Sem ódio nem opressão
Dirão bem quem vale mais
Se os escravos dum país
Se os donos duma nação


terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fado Anadia


Não nego a minha condição de fadista conservador, reconhecendo todas as criticas que implicitamente me possam dirigir. Porém insisto em guardar o maior espaço deste cantinho ao fado tradicional, como é o caso deste regresso de Maria Teresa de Noronha cantando o fado Anadia letra de Marques dos Santos

Eu sei que no céu profundo
Nunca brilhou minha estrela
Sinto que a vida do mundo
Jamais poderei vivê-la

Penso que a vida que vivo
Não passa duma ilusão
Pois não encontro o motivo
Do bater do coração

Creio viver sem ter vida
Viver vida sem alento
Tal como folha caída
Andando ao sabor do vento

Não quero sofrer a sorte
Nesta má sina contida
Prefiro pedir a morte
Que me leva á outra vida


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Negro Xaile


Volto a falar de António Pelarigo esse fadista ribatejano de eleição, que para muitos permanece incógnito, injustamente incógnito, mas insisto que a sua qualidade, merece muito mais

Este fado tem a assinatura de Jorge Fernando na letra e na música

Põe o negro xaile
solto nos teus ombros
Quero ouvir cantar
Porque em minhas mãos
há uma guitarra
Pronta p'ra trinar

Estranhas ouvir o meu fado
falar de saudade
E dizes que é triste demais
para a minha idade
Mas sei que é o meu destino
cantar nosso fado
Que já minha alma invade

Por isso

Põe o negro xaile
solto nos teus ombros
Quero ouvir cantar
Porque em minhas mãos
há uma guitarra
Pronta p'ra trinar

Em sonhos ouvi uma voz
sussurrar-me o fado
Timbrada, dizia-me assim
vou estar a teu lado
Então pensei que essa voz
fosse a minha alma
Ou a voz do próprio fado

E então

Põe o negro xaile
solto nos teus ombros
Quero ouvir cantar
Porque em minhas mãos
há uma guitarra
Pronta p'ra trinar


terça-feira, 13 de julho de 2010

O fado e os fadistas estão de luto


Disseram-me hoje que o nosso amigo António Ferreira proprietário do restaurante OS Ferreiras em Lisboa, tinha falecido.
.
A notícia já era esperada há uns tempos e infelizmente aconteceu. Foi nessa casa que Fernando Maurício, cantou as últimas vezes, já que era dele a direcção artística daquela casa nos seus últimos anos de vida

Tantos artistas por lá passaram e muitos outros lá cresceram para o fado como Ricardo Ribeiro, Diogo Rocha ou Ana Maurício.

Associo-me à dor da sua esposa e do seu filho

Aqui numa desgarrada numa daquelas noites lá no Ferreiras ei-lo a abrir a desgarrada, onde se reconhecem

Dr, Crescêncio Pinto
Tó Lisboa
Júlia Lopes
Diogo Rocha
Artur Batalha
Jorge Fernando

Guitarra Portuguesa: António Pinho
Viola de Fado: Tenente-Coronel Américo Leite


*****

E sozinho numa das suas pausas no imenso trabalho que tinhas nas noites de 6ª e Sábado


Que descanse em paz amigo António

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Prece


Este fado faz parte dum CD recentemrnte lançado onde se registam interpretações de 18 fados onde Carlos Zel a solo ou em duo com fadistas ou músicos, e ainda a introdução de Júlio César, a quem se deve a ideia das "Quartas de Fado", interpreta alguns exitos desses eventos


Esta Prece tem letra de Pedro Homem de Melo e música de Alain Oulman

Talvez que eu morra na praia
Cercado em pérfido banho,
Por toda a espuma da praia
Como um pastor que desmaia
No meio do seu rebanho

Talvez que eu morra dum tiro
Castigo de algum desejo
E que á mercê desse tiro
O meu ultimo suspiro
Seja o meu primeiro beijo

Talvez que eu morra entre grades
No meio duma prisão
E que o mundo, além das grades
Venha esquecer as saudades
Que roem meu coração

Talvez que eu morra no leito
Onde a morte, é natural
As mãos em cruz, sobre o peito
Das mãos de Deus tudo aceito
Mas que eu morra em Portugal



terça-feira, 29 de junho de 2010

Morrer-me devagar


Este fado é do trabalho do Jorge Fernando chamado Vida

Vida” é uma colecção de 16 retratos musicais e poéticos sobre o espírito dos dias. “Sobre o amor, visto como sexo ou como o ultimo refúgio maternal (conforme, por exemplo Morrer-me Devagar e Colo de Mãe, respectivamente) ou sobre o olhar indignado de quem vê o abandono dos que nasceram do lado incerto da vida (Fado da Triste Stripper, Bela Adormecida)”, como descreve, em comunicado, a editora discográfica Farol Música.


Letra de Jorge Fernando música de Miguel Ramos no Fado Alberto


Cruza-se o olhar e cai o céu
Na esfera circundante, do olhar
Sem distinguir o meu olhar do teu
Recuso nossos olhos descruzar

E as mãos, que do meu corpo se distinguem
Apenas p’la suave cor da tez
Pedem aos meus dedos que se vinguem
No deslumbre e no risco da avidez

Assim, eu me harmonizo no confronto
Das ancas, num intenso compassar
E quando meu amor me sentir pronto
Dentro em ti, vou morrer-me devagar


domingo, 20 de junho de 2010

Paradoxos do amor


Pedro Moutinho nasceu em Oeiras, a 11 de Novembro de 1976, no seio de uma família ligada ao Fado desde longa data. Cresceu a ouvir e a conviver com alguns dos mais importantes intérpretes da canção de Lisboa, que o iniciaram na arte de bem cantar. Com 11 anos de idade já cantava em encontros informais e inevitavelmente acabou por se fixar nessa sublime expressão musical de Lisboa…o Fado.

Este fado pertence ao seu útimo e notável trabalho "Copo de sol"

Letra de Rogério Oliveira música do Fado freira do Miguel Ramos

Há no seu jeito inseguro
Um toque de charme puro
Que desnorteia e emudece
São coisas que não se entendem
Mas sei que muito me prendem
Dum modo que não se esquece

É como ter sempre um muro
Não ver além um futuro
Sem que por ela não passe
Pousar a mala na estrada
E ver a vida adiada
Como se alguém a levasse

As leis precisas do amor
E os predicados da dor
Andam sempre lado a lado
Amar é ter por condão
Estar preso e dessa prisão
Não querer ser libertado

Letra retitada desse cantinho de amor fadista chamado Fados do fado


quarta-feira, 9 de junho de 2010

Fora de horas



Volto a lembrar aqui Fernanda Maria cantando este fado letra e musica de Belo Marques

e depois para continuar a ouvi-la pode escolher este outro fado Sou companheira do vento, que

Jorge Silva colocou no seu magnífico blogue de fado.


Fadista geme a tua desventura
Não faças conta ao tempo quando choras
Que o Fado em certas horas de amargura
Só deve ser cantado fora de horas

Não bate o coração a horas tantas
Nem sabe quando ri ou quando chora
O Fado é mais sentido quando cantas
Se a hora de o cantar passa da hora

O Fado é o destino de uma hora
Um dia ela virá, mas não sei quando
Quem tem um coração que canta e chora
Não pode ouvir as horas que vão dando

Bateu-me o Fado à porta lentamente
A quem fui receber de mãos abertas
Meu triste coração ficou doente
E nunca mais bateu a horas certas



sexta-feira, 4 de junho de 2010

Engraxador


Um fado muito antigo de autor desconhecido e que vale por isso mesmo como recordação, porque obviamente a letra se encontra absolutamente descontextualizada dos tempos de hoje

A voz é de Maria Lisboa uma fadista "desaparecida" das lides e que começou a sua carreira como Milú Mendes. Alguém sabe dela ?

Se eu pudesse com a luz minha
dar luz à minha mãezinha
que bom seria meu Deus
cegou para me dar à luz
e hoje por sua cruz
não tem luz nos olhos seus

Era a suplica dum filho
ao ver os olhos sem brilho
da mãe que tanto adorava
põe ao ombro a tosca caixa
mas antes de ir para a graxa
beija a mãe e então parte

Na rua alguém o chamou
a quem o petiz engraxou
e lhe diz sem artifícios
quem diria rapazinho
que tu assim tão miudinho
já sabias o oficio

Diz o pobre em voz serena,
o ver brilhar faz me pena,
eu queria cegar também,
ponho o calçado a brilhar
mas brilho não posso dar
aos olhos de minha mãe

Disse o freguês ao garota
Deus ouviu o teu pedido
porque a tua alma é bela
se tua mãe é ceguinha
porém não é sozinha
também és cego por ela


quarta-feira, 26 de maio de 2010

Adolescência perdida


Mais um fado na voz do Fernando Jorge e outra letra de António Rocha para o fado Carriche de Raúl Ferrão

Poema da minha vida
Sem velhice nem infância
Adolescência perdida
No mar da minha inconstância

Poema da minha vida
Fogo que perdeu a chama
Caminhada resumida
A sulcos feitos na lama

Sem velhice nem infância
Vão as verdades morrer
No limite da distância
Que há entre mim e o meu ser

Adolescência perdida
Em busca de mundo novo
E da razão construída
Com gritos vindos do povo

No mar da minha inconstância
Naufraga a causa perdida
A que tu dás importância
Poema da minha vida

Levas nas mãos amarradas
Vontades amordaçadas



sábado, 22 de maio de 2010

Longe de mais


De novo aqui um fado do vasto repertório de Maria João Quadros a quem presto a minha homenagem, ela é uma verdadeira Boca Linda.

Letra de Jorge Rosa música de Francisco José Gonçalves

Longe de mais
foste tu, meu coração
Sem teres a menor noção
da tua louca corrida
Longe de mais,
mais longe do que devias
Sem veres que essa correrias
punham fim á minha vida

Se amar pouco é malvadez
Amar de mais é talvez
pior mal, é uma loucura
Quem ama pouco consegue
que ás vezes esse amor chegue
a ganhar maior altura

Mas quem muito ama, não,
Não domina o coração,
nem lhe pergunta onde vais ?
Que um louco a correr, não pára
E quando pára, repara
que já foi longe de mais

Longe de mais,
tão longe que a felicidade
Nem sequer sentiu saudad
e
de acompanhar o teu passo
Longe de mais,
em tão louca correria
Que todo o amor que existia
enfraqueceu de cansaço



sábado, 15 de maio de 2010

Rosa livre

MARIA ARMANDA Nasceu em Lisboa em 1942.

Pode ser ouvida, regularmente, no ambiente tradicional do fado, em Lisboa cantou em quase toda a Europa; Brasil. Venezuela, Canadá são lugares familiares ao seu talento.

Maria Armanda continua a ser uma das principais referências do Fado em Portugal.



Rosa livre, rosa livre
rasgaste o chão do degredo
vermelha do sangue vivo,
dos que viveram sem medo.


Rosa menina em Abril
em maio rosa mulher,

quem em setembro a feriu

em março a queria acolher


Rosa livre rosa livre
nos campos da minha terra,
flor de sangue que redime
soldados do fim da guerra.


Rosa livre rosa livre
a gritar num tempo novo
rosa cada vez mais livre
no peito aberto do povo.


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Não me venhas ver ao fado

Esta fadista já falecida mas ainda hoje recordada por muitas pessoas que ama o fado e os seus intérpretes e que não deixam passar a memória dos seus grandes nomes mesmo que já não estejam fisicamente entre nós

Para ler um pouco mais sobre esta fadista consultar o blogue Lisboa no Guiness

Esta letra é de Guilherme Pereira da Rosa a música de Francisco José Marque no fado Negro

Não me venhas ver ao fado
Por favor passa de lado
Vou começar nova vida
Deixa que eu amor te esqueça
Ou pelo menos que pareça
Que de ti já estou esquecida

Não me venhas ver ao fado
Deixa cair no passado
Ventura que já morreu
Já bem basta esta maldade
Ó pena de uma saudade
Que é tão tua como eu

Não me venhas ver ao fado
Onde um peito magoado
Canta mágoas e revoltas
Mas se voltas qualquer dia
É de tanta avé Maria
Que rezei pela tua volta



quinta-feira, 6 de maio de 2010

Amor que o amar inventa

A fadista Romy, não é apenas a viúva de Carlos Barra, é uma grande fadista, com um passado e naturalmente com o futuro que lhe desejo risonho


Letra de Francisco Madureira e música de Silva Ferreira

Recolhe-me nos braços da ternura
Mais longos que os desejos infinitos
E beija-me com beijos de loucura
Os olhos espantados e aflitos

Abriga-me no peito de romã
Alegra-me na noite que passou,
Amor, amor dum sonho da manhã
Mais linda, que o amor já inventou

Amor que invento agora porque quero,
Amar qualquer homem em qualquer canto
Com este amor estranho mas sincero
Que grito enquanto falo enquanto canto

Por isso estendo os braços ao amor
Que receia perder-se ao ser amada
Invento uma fogueira de prazer
E faço mais amor na madrugada

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quero tanto aos olhos teus

Ricardo Ribeiro lançou recentemente um novo CD chamado Porta do coração, que recomendo vivamente seja escutado e comprado, porque vale a pena. Este que aqui trago é bem mais antigo mas na mesma estupendo, porque o Ricardo não sabe cantar mal

A letra é de Manuel de Almeida a música do Fado Lopes da autoria de José Lopes

Quero tanto aos olhos teus
Como o céu quer ás estrelas
Adoro essa feições belas
Como um crente adora Deus

Desde a hora em que te vi
Minh’alma anda presa á tua
Como eu ando atrás de ti
Anda o sol atrás da lua

Se um dia o sol se apagar
No infinito dos céus
Quero a luz do teu olhar
E o calor dos lábios teus

Por te querer tanto, afinal
Ando a triste, a perguntar
Como é possível gostar
De quem nos faz tanto mal


terça-feira, 20 de abril de 2010

Fado dum mundo louco

Este fado na voz do veterano Artur Batalha que aqui volta com este fado já antigo do seu repertório tem letra de Zeca Maneca e música de João Maria dos Anjos

Noite negra nua e fria
uma garganta escondida
estranho silêncio no ar
a cantar a nostalgia
que nela vinha perdida
numa noite sem luar

Era a voz do louco fado
dum pesadelo a fugir
ao fascínio da maldade
no seu mundo inconformado
onde teve que cair
no abismo da verdade

Uivou a noite dos lobos
chorou a a noite sem calma
neste mundo sem razão,
nas gargalhadas dos bobos
nos tristes corpos sem alma
a viver na escuridão





quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Janela do meu peito

Dizer que Lídia Ribeiro é a mãe de Teresa Guilherme é apenas uma curiosidade, mas não pode ser a única coisa a dizer desta fadista. Seria injusto para uma artísta com longo e reconhecido percurso.
Tem hoje 76 anos e está retirada, ela que começou muito jovem pelas mãos de Igrejas Caeiro, nos Companheiros da Alegria. Este fado foi escrito propositadamente para ela por Alberto Janes e talvez tenha constituído o seu maior êxito.

Lá vai brincando, pela mão de uma quimera
Essa garota que fui eu, sempre a sorrir
Como se a vida fosse eterna primavera
E não houvesse dores no mundo p’ra sentir

As gargalhadas vêm poisar na janela
E ao ouvi-las tenho mais pena de mim
Ai quem me dera rir ainda como ela
Mas quando rio, eu já não sei rir assim

Tenho a janela do peito
Aberta para o passado
Todo feito de fadistas e de fado
Espreita a alma na janela
Vai o passado a passar
E ao ver-se nela, a alma fica a chorar
Neste desfile que passa
Fica a saudade sozinha
Até a graça, perdeu a graça que tinha
Desilusões as que tive
Enchem a rua…lá estão
E a gente vive dos tempos que já lá vão

Lá vem gingando nesse seu passo miúdo
Melena preta, calça justa afiambrada
Como mudamos, tu que foste para mim tudo
Hoje a meus olhos pouco mais és do que nada

Tuas chalaças de graçola e ironia
Eram da rua, andavam de boca em boca
E era ver-te não sei o que sentia
Talvez loucura, que por ti andava louca




sexta-feira, 9 de abril de 2010

Vagabundo de saudade


Trago aqui de novo a voz de António Mourão, um fadista inesquecível

Letra de Zélia Rosa Pinto música do Fado de Rio Maior de Franklin Godinho

Em mar feito de loucura
onde só há noite escura
donde se não vê o céu
vagabundo de saudade
eu não encontro a verdade
ando sem o olhar teu

Vagas altas no meu peito
grita o meu sonho desfeito
fecho os olhos pra não ver
no mar da minha ansiedade
eu só vejo uma verdade
a verdade de te querer

Vivo ao sabor das marés
corro a praia lés a lés
já sinto o corpo a doer
mas não, não posso parar
eu tenho que te encontrar
nada me pode prender