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sábado, 30 de junho de 2012

Lei da vida

De João Alberto já aqui publiquei alguns poemas seus, muito cantados e conhecidos como o Coração embriagado e Sinas trocadas, trago este fado menos conhecido mas nem por isso pior. Desta vez cantado pelo grande Artur Batalha, sobre a música do fado Ermida também da autoria de João Alberto

Gastei contigo
parte da vida
que já vivi,
jamais consigo
ser o quer era
se te perdi,
ontem gostaste
hoje cansaste
de me querer bem,
é lei da vida
tudo o que nasce
morre também


Amor sincero
chego a pensar
que no teu peito,
não pode entrar
amor sincero
nunca peças para te dar,
amor sincero
só pode haver
quando são dois,
a querer viver
amor sincero
toda a vida
até morrer

Não vejo jeito
para entender
tua vontade,
que no meu peito
em vez de amor
haja amizade,
qual de nós dois,
vera depois
que está errado
nem tu nem eu
pode esquecer
o amor passado


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Olhos fatais

Esta poema de Henrique Rego provavelmente devido à sua extensão, só era cantada na sua totalidade por Alfredo Marceneiro, sobre a sua música do fado bailado. A versão que aqui trago é a de Manuel Cardoso de Menezes

A sorte que Deus me deu
e que sempre hei-de lembrar,
embora não seja ateu,
julguei encontrar o céu,
na expressão do teu olhar

Neste mundo mar de escolhos
Unindo os nossos destinos,
E nesta vida de abrolhos,
para mim teus lindos olhos,
eram dois céus pequeninos

No espelho do teu olhar
vi dois céus em miniatura
e para mais me encantar
iam-se neles mirar
na minha própria ventura

(esta só marceneiro cantava)

E tão mística atracção
tinha teu olhar profundo
que em sua doce expressão
eram um manto de perdão
sobre as misérias do mundo

Mas deitaste-me ao deserto
deste mundo enganador
hoje o teu olhar incerto
já não é um livro aberto
em que eu lia o teu amor

Enganaste os olhos meus
nunca mais te quero ver,
meus olhos dizem-te adeus,
teus olhos não são dois céus
são dois infernos a arder.

Coração pra amar a fundo
outro coração requer
se há tanta mulher no mundo
vou dar este amor profundo
ao amor doutra mulher




domingo, 17 de junho de 2012

Igreja de Santo Estevão

Embora não seja meu habito neste cantinho, colocar fados que não resultem de trabalho próprio na construção dos clips, desta vez não resisto.

Estão aqui várias curiosidades, que começam pelo interprete o grande poeta António Torre da Guia, depois o fado uma abordagem diferente do fado Igreja de Santo Estevão o conhecido fado de Gabriel de Oliveira, normalmente cantado na musica do fado Vitória e que Fernando Maurício tornou imortal como ele próprio. Aqui Torre da Guia canta sobre uma das minha músicas preferidas o fado Maria Rita também conhecido como Fado de Santa Luzia de Armando Machado

Isto demonstra bem a capacidade que há de cantar o fado, renovando poemas conhecidos cantando-os sobre outras música e que permite, como aqui se demonstra, descobrir novas sonoridades.

Porque não tentam fazê-lo mais vezes os fadistas ? Neste caso Torre da Guia como poeta que é, sabe muito bem que as sextilhas deste poema não precisam de ser cantadas sempre sobre a música do fado Vitória

Depois a gracinha final da quadra de sua autoria, uma preciosidade



domingo, 10 de junho de 2012

Ovelha negra

Há já muitos anos que ouvi com muito agrado Helena de Castro cantar nos Ferreiras em Lisboa, onde cantou algum tempo, junto do grande mestre Fernando Maurício. Perdi-lhe o rasto, mas não esqueci a sua magnífica voz de tonalidade grave que muito me agrada e a forma como interpreta os fados do seu vasto repertório.

Quando se canta o fado, sem que as palavras façam doer na alma de quem ouve, é sinal que saíram por acaso boca fora de quem as disse e isso sente-se, eis a razão porque vozes estupendas não triunfam junto de quem as ouve e outras quase sem explicação aparente permanecem eternamente na memória de quem ama o fado.

Este é o caso de Helena de Castro, basta ouvi-la uma noite para se perceber que cada fado que canta, nunca lhe é indiferente ainda que saibamos que o cantou centenas de vezes.

Voltei a reencontra-la,numa noite de fado em Portimão, no café Nacional onde acontece fado de 15 em 15 dias sempre com a presença do guitarrista Ricardo Martins e do viola Aníbal Vinhas

Este fado é um poema de João Dias aqui cantado sobre a música do fado 3 bairros de Casimiro Ramos

Chamaram-me, ovelha negra,
Por não aceitar a regra,
De ser coisa, em vez de ser,
Rasguei o manto do mito,
E pedi mais infinito,
Na urgência de viver.

Caminhei vales e rios,
Passei fomes, passei frios,
Bebi água dos meus olhos,
Comi raízes de dor,
Doeu-me o corpo de amor,
Em leitos feitos de escolhos,

Cansei as mãos e os braços
Em negativos abraços
Em que a alma, foi ausente,
Do sangue das minhas veias,
Ofereci taças bem cheias,
Á sede de toda a gente

Arranquei, com os meus dedos,
Migalhas de grãos, segredos
Da terra, escassa de pão,
E foi por mim que viveu
A alma que Deus me deu,
Num corpo feito razão





Fonte ; blog de Ricardo Martins

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Grande amor

Hélder Moutinho um dos irmãos Moutinho, uma família de homens do fado, acumula com poemas de grande qualidade, que já aqui trouxe, relembrando um que gosto particularmente A balada do sol errada. Desta vez é Ricardo Ribeiro que aqui canta Grande amor para o fado zeca de Amadeu Ramin

De Ricardo Ribeiro, pouco posso acrescentar, é só um dos maiores interpretes do nosso fado e com o seu grande mestre Fernando Maurício, aprendeu e tenho a certeza vai guardar em toda a sua vida a enorme modéstia de se considerar sempre a aprender e a amar o seu público e nunca perder de vista a dicção e a respeitar a pontuação de cada poema, para que apareça "limpo e claro" aos ouvidos de quem o ouve.

Hoje domina por completo a sua potente voz, sabendo que cantar o fado não é gritar, o melhor fadista não é o que rebenta os tímpanos de quem o ouve, mas aquele que sabe tocar na nossa alma e para isso acontecer têm que empenhar a sua

Vem ver o sol nascer, no meu olhar,
Com raios de ilusão, no meu presente,
E deixa o teu passado, naufragar,
No mar do meu futuro, eternamente

Apaga do meu triste, pensamento
As minhas noites frias, sem te ver
E traz-me a primavera, em vez do vento
Que vou voltar á vida, p'ra viver

Há quanto tempo fomos, tão amantes
P'ra inundar o sonho, destruído
Vivemos nossas vidas, tão distantes
Que o nosso amor viveu, quase perdido

Mas já não há mais tempo, p'ra chorar
E ambos somos livres, novamente
É hora de voltarmos, a cantar
O nosso grande amor, a toda a gente