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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Lamentos

Max o grande fadista menos conhecido entre nós por essa faceta, volta aqui de novo, com o seu estilo inconfundível, nunca deixarei de o lembrar considerando um dos maiores nomes do fado de sempre

Letra é de Domingos Gonçalves Costa e música do próprio Max.


Foge de mim
sinceramente te peço,
esquece tu
que eu também esqueço,
o nosso amor infeliz

Foge de mim
porque jamais compreendes,
que eu não sou
quem tu pretendes
e assim não serás feliz

Foge de mim
porque ao sofrer teu penar,
a isto chamas amar,
e eu não quero amar assim.

E se algum dia,
te encontrares
sem um carinho,
qual errante
num caminho,
agreste e triste sem fim

Volta aos meus braços,
aos meus afectos leais,
e verás que nunca mais,
nunca mais foges de mim

Foge de mim,
se a tua sorte voltar,
é trocares nossa amizade,
por outro afecto qualquer.

Foge de mim,
porque a saudade é só minha,
e se és mais feliz sozinha,
e só te vejas mulher

Foge de mim,
para onde eu nunca te veja,
foge que Deus te proteja,
e ao meu desgosto ter fim

Volta aos meus braços,
aos meus afectos leiais,
e verás que nunca mais,
nunca mais foges de mim.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Lamento sem abrigo

Uma palavra Jorge Fernando no seu melhor. Como é seu hábito, autor de letra e de música e a presença duma voz maravilhosa, isto chama-se o pleno dum grande artista.

Esta fado está inserido num CD chamado Vidas

Quando a noite promete lançar-me na senda do frío
Quando a chuva se atreve no rosto gelado e cansado
E a névoa da montra reflecte meu olhar vazio
Porque a olho e não vejo senão o rosto do pecado

Quando a calça molhado pela água que o vento me atira
E o corpo reclama a atenção que o pensamento nega
É que eu sinto que às vezes a alma de mim se retira
E suspensa só espera um sinal para a última entrega

Quando o asfalto molhado recusa o descanso breve
E o cansaço me toma nos braços das sombras que assomem
A criança que fui volta a mim, e os sonhos que teve,
São a voz do menino que pede,não queiras ser homem

Quando a angústia gastar o meu tempo e minha coragem
De não querer nem sequer resistir ao caminho traçado,
Não há chuva, nem vento, nem frio que me impeça a viagem
E eu serei apenas a lembrança de um triste pecado

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Falar sozinho

Já com 50 anos de carreira Nuno de Aguiar é um dos mais antigos fadistas no activo.

Trago-o aqui para cantar uma letra de Silva Tavares sobre o fado bacalhau de José António Silva. uma música do ínicio do século 20 mas que ainda hoje é bastante usado, foi um dos primeiros fado para sextilhas, num tempo em que todos cantavam versos em quadras, em redondilha maior.


La porque passo na rua
sempre a conversar comigo
no meu silêncio profundo,
dizem que eu ando na lua,
e outras coisas que eu não digo,
só para não ouvir o Mundo

Diz-me aquele que devo ir
ao doutor mostrando pena
para não dizer que estou louco,
um outro então sem sentir,
diz-me que não vale a pena,
enlouquecer por tão pouco.

Depois outro e outro ainda,
perdem tempo a conversar,
do meu conversar assim,
e enquanto a vida não finda,
eu prossigo sem reparar,
que alguém reparou em mim.

Lá porque falo comigo
e levou uma vida a esmo
o Mundo fala de mim,
deixai-me um só bocadinho,
conversar comigo mesmo,
que um louco não é assim.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Espera

Em verdade se diga que Pedro Homem de Melo já morreu há 26 anos sendo também verdade que não é suficientemente lembrada a sua qualidade de poeta e devidamente identificado e divulgada a sua acção em prole da cultura popular, que ele conheceu profundamente.

O fado e os que o amam, contudo não o esquecem, imensas são as suas letras, que, aposto , não há fadista que não o cante. Esta é menos conhecida mas nem por isso menos bela.

Do magnifico trabalho de Paulo Penim de 2003,( para quando outro trabalho com a qualidade daquele álbum a que chamou Os nomes do amor ?), este fado uma letra dele de 1952, mas que demonstra bem a intemporalidade da poesia.

A música é do fado Margaridas de Miguel Ramos, um tradicional para decassílabos

Quando virás na vaga proibida
com maresia e vento ao abandono
pôr nos meus lábios um sinal de vida
onde haja apenas pétalas e sono

Com teu olhar de nuvem ou cipreste
com uma rosa oculta por florir,
se te chamei e nunca mais viste,
quando virás sem que eu te mande vir,

Quando quebrando todos os segredos,
na aragem que a poeira deixa nua,
virás deitar-te um pouco nos meus dedos,
como o sol como a terra como a lua.

E porque a minha boca te sorrira,
tentando abrir uma invisível grade,
quando virás sem medo e sem mentiras,
dar ao meu corpo a sua liberdade.