Tristão da Silva de novo cantando um fado de Frederico de Brito.
Fica a nota que será por certo a última vez que publicarei um fado sem ser acompanhado à guitarra e à viola. Só o facto de ser o Tristão da Silva a cantar me fez abdicar desse princípio.
Chamo a atenção ara a profundidade daqueles graves quando diz que eu deixei um dia, ninguém canta assim, continua a ser um deslumbre ouvi-lo.
Cem anos que eu viva não posso esquecer-me
Daquele navio que eu vi naufragar
Na boca da Barra tentando perder-me
E aquela janela virada pró mar
Sei lá quantas vezes desci esse Tejo
E fui p´lo mar fora com a alma a sangrar
Levando na ideia os lábios que invejo
E aquela janela virada pró mar
Marinheiro do Mar Alto
Olha as ondas uma a uma
Preparando-te um assalto
P´ra fazer teu barco em espuma
Repara na quilha bailando na crista
Das vagas gigantes que o querem tragar
Se não tens cautela não pões mais a vista
Naquela janela virada pró mar
Se mais ainda houvesse mais fortes correra
Lembrando-me em noites de meigo luar
Duns olhos gaiatos que estavam à espera
Naquela janela virada pró mar
Mas quis o destino que o meu mastodonte
Já velho e cansado viesse encalhar
Na boca da barra e mesmo defronte
Daquela janela virada pro mar
Marinheiro do mar alto
Olha as vagas uma a uma
Preparando-te um assalto entre montes de alva espuma
Por mais que elas bailem numa louca orgia
Não trazem desejos de me torturar
Como aquela doida que eu deixei um dia
Naquela janela virada pró mar
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