Uma letra, do seu letrista favorito o poeta Henrique Rego que Marceneiro musicou com o nome de Fado da Laranjeira, nesta difícil arte de versejar em doze sílabas.
A voz e o estilo inconfundível de Alfredo Marceneiro
Letra de Henrique Rego e música de Alfredo Marceneiro-Alexandrino da Laranjeira
Encostado sem brio ao balcão da taberna
De nauseabunda cor e tábua carcomida
O bêbado pintor a lápis desenhou
O retrato fiel duma mulher perdida
Impudica mulher, perante o vil bulício
De copos tilintando e de boçais gracejos,
Agarrou-se ao rapaz, cobrindo-o de beijos,
Perguntou-lhe a sorrir, qual era o seu oficio,
Ele a cambalear, fazendo um sacrifício,
Lhe diz a profissão em que se iniciou,
Ela escutando tal, pedindo alcançou
Que então lhe desenhasse o rosto provocante,
E num sujo papel, o rosto da bacante
O bêbado pintor com um lápis desenhou.
Retocou o perfil e por baixo escreveu,
Numa legível letra o seu modesto nome,
Que um ébrio esfarrapado, com o rosto cheio de fome,
Com voz rascante e rouca à desgraçada leu,
Esta, louca de dor, para o jovem correu,
Beijando-lhe o rosto, abraça-o de seguida...
Era a mãe do pintor, e a turba comovida,
Pasma ante aquele quadro, original e estranho,
Enquanto o pobre artista amarfanha o desenho:
O retrato fiel duma mulher perdida.
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